quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Ecos Submersos

Quero viver até o fim das coisas que amei
Meus amores fantasmas

Hoje quis voltar para casa
mas não quis ver ninguém por perto
Ansiei pelas ruas vazias,
pelo som do vento, o farfalhar das árvores

No meu apocalipse
todos se foram e eu fiquei

Eu quero me afogar no silêncio,
matar todas as palavras.
Esse vazio de dizeres,
um sonhar acordado
povoado de memórias e imagens

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Eu escolhi este lugar dentre todos os outros

Um dia eu escolhi não acreditar no destino
ou, pelo menos, desacreditá-lo em partes.
Sentia que o destino queria ditar as regras,
controlar todos os detalhes,
mapear todas as rotas.
O destino queria dizer:
"Tudo é como deveria/deve/deverá ser"
Lá vai ele, falando de "deveres".

Aquilo que não prevemos
e que acontece de maneira inexorável,
resolvemos chamar de destino.
Se é ruim,
o chamamos de cruel.
Se é bom não chamamos de destino,
dizemos que é benção.
Algumas vezes, para tirar seu peso,
chamamos de casualidade, acaso.

E é difícil desacreditá-lo
quando nos primeiros momentos juntos
você completava as minhas frases
e eu as suas.
Quando você me encontrava com seus olhos
no exato momento em que eu buscava os seus.
E quando meu peito transbordava de você
o seu peito transbordava de mim.

Talvez o destino não demande nada.
Não obrigue. Não peça. Não imponha.
Talvez ele nem queira ser chamado assim.
Ele simplesmente existe.
Um infinito de possibilidades e encontros.

Talvez seja isso,
o destino não me obrigou a nada.
O destino possibilitou que eu vivesse
e escolhesse o que quisesse.

Ele me permitiu ver você.
Ele me permitiu beijar você.
Ele me permitiu me apaixonar por você.
Ele me permitiu amar você.
Em todas as instâncias, escolher você.

O destino talvez seja um grande amigo.



segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Gravura

O brilho do sol nos teus olhos.
A luz dos teus olhos:
caleidoscópios, auroras boreais.

"A linha do mar sempre está na altura dos seus olhos" 
O mar dos teus olhos:
praias de areia dourada, águas de ondas verdes.

Amor nos teus olhos.
Amar nos seus olhos:
olhar as manhãs e as noites,
enxergar você.

O amor em você.
Amar você
e isto somente.



terça-feira, 9 de agosto de 2022

Estranhos conhecidos

Quando éramos estranhos um ao outro,
descobrimos que na verdade já nos conhecíamos.
As mãos já sabiam os caminhos.
Os pés, os passos.
Os lábios, os beijos.
A voz, as palavras.

As nossas descobertas
mostraram que já estivemos nos mesmos lugares.
Não que isso mudasse alguma coisa.
Eu quis continuar descobrindo
pra te reafirmar por dentro.

Te alimentar com os fragmentos de mim
que você desconhecia.
Receber em troca o mesmo
em doses homeopáticas.

Viver os dias de serenidade
segurando mãos cujos nós se entrelaçam.
Vibrar o corpo em ondas
nos enlaces.
Desfazer a saudade
em horas, minutos e segundos compartilhados.
Sentir com calma e certeza
como mares calmos de águas quentes.

A grande ironia é esta ideia:
habitar tantos lugares em comum é tão absurdo
que no fim o que predomina é o imponderável,
o lugar fora do comum,
o reino da surpresa e da descoberta.
Ainda bem.

Como é bom poder te (re)encontrar.
Como é bom poder te (re)descobrir.



segunda-feira, 13 de junho de 2022

Amar e mudar as coisas

Tem dias em que queria somente entregar tudo.
Doar cada pedaço,
derramar cada parte de mim.

Queria me entregar pra tudo e todos.
Que sentissem meu carinho,
que meu amor os acolhesse.
Encher os pulmões
e o peito das pessoas de coragem,
emprestar toda a minha força.

Queria entregar tudo
pra que eu pudesse partir.
Viver pra sempre nos outros
sem me preocupar em me fazer presente.

Queria entregar tudo
para fazer os que eu amo eternamente felizes.
Doar tudo
pra me desfazer de mim mesmo.

Um sonho narcisista, megalomaníaco, egocêntrico.
Como se eu pudesse tomar para mim
as dores de todos.
Como se eu tivesse a capacidade
de curá-los, salvá-los.

Se quero viver pelos outros,
com os outros,
primeiro preciso viver para mim.

sábado, 11 de junho de 2022

A memória escrita do meu amor passado

Escrevi isto pra te dizer
que não sinto mais a sua falta.
É verdade, mas não é pra te doer.
É pra te libertar também.

Transformei você
na única coisa que podia.
Te transformei em memória.
Fiz com todo carinho
esse cristal de amor.




domingo, 5 de junho de 2022

Mãos abertas

Se eu pudesse abrir meu peito
jorraria o mar.
E inundaria todos os momentos,
salgaria todas as memórias
para assim conservá-las.

Eu quero viver outras vidas,
mas ultimamente vivi dezenas.
Estou carregando todas comigo.

Amar outros amores,
abraçar meus amigos,
cantar outras canções,
andar na chuva mais vezes,
caminhar de noite,
sofrer outras dores,
todas as coisas que acontecem no meio.

Quando abrir essa porta
vou encontrar alguém novo.
Serei eu.